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Construindo hábitos alimentares

Construindo hábitos alimentares

A reflexão sobre hábitos alimentares está presente em minha vida há bastante tempo. Com 19 anos deixei de comer carne. Na época minha escolha baseava-se exclusivamente no ideal de poupar a vida dos animais. Hoje tenho consciência de que essa é também uma escolha baseada numa vida mais saudável e sustentável do ponto de vista ambiental. Mas sobre isso falaremos em outra ocasião.

Como a maior parte dos vegetarianos de primeira viagem, substitui carne de todos os tipos por soja,  massas e queijos, sem pesquisar sobre alternativas mais inteligentes.

Alguns anos mais tarde comecei a sofrer de gastrite motivada tanto por questões emocionais quanto por péssima dieta. A doença foi se agravando a ponto de meu sistema digestivo quase completo ficar inflamado – esôfago, estômago e duodeno intensamente doloridos.

Por sorte, encontrei um médico ótimo que além de remédios caríssimos para reconstrução da camada de proteção do sistema digestivo, me ajudou numa reeducação alimentar. As restrições incluíam cafeína (café, chocolate, chá mate), frituras, queijos, molhos, condimentos, industrializados de maneira geral entre outras tantas. Naquele momento foi um sofrimento, mas muitas dessas proibições se tornaram hoje uma escolha por uma saúde mais plena.

Quando me mudei para o Sítio Flor da Vida em 2015, intensifiquei minhas escolhas por uma alimentação natural. Percebi que a ausência de estímulos externos e uma vida mais satisfatória fortaleceram minha decisão. Descobri, ao mesmo tempo, prazeres muito maiores do que o paladar imediatamente satisfeito e sabores onde eu não imaginava que houvesse.

Ao engravidar do Gael, iniciei uma verdadeira revolução na cozinha. Isso porque eu queria acertar na alimentação dele desde o início e tinha a certeza de que a melhor maneira de fazer isso seria dando o exemplo. Também tinha noção da pressão familiar que eu enfrentaria, pois conhecia a necessidade que os avós, tios e primos tem de demonstrar afeto através da oferta de alimentos, principalmente doces.

Se você soubesse como me assuta ver adultos oferecendo refrigerantes e chocolates para crianças pequenas ainda durante a fase de introdução alimentar…. Fico pensando no que leva alguém a querer compartilhar açũcar – uma droga comprovadamente mais viciante que a cocaína e a heroína – com uma criança. “As pessoas não tem noção do quanto açúcar é prejudicial” alguém poderia argumentar. Será?

Eu acho que a questão é mais complexa do que a simples falta de informação. Digo isso porque mesmo quando compartilho esses dados com familiares e amigos, eles ficam mais irritados do que agradecidos. Parece que preferem permanecer na ignorância a rever hábitos.

Para fazer escolhas que fujam da norma, descobri que:

1- É preciso estudar e se apoiar em dados, pesquisas e resultados empíricos.

2- É preciso apoio de um grupo que tenha as mesmas convicções que você.

No nosso caso com o Gael, o que nos ajudou muito foi participar de um grupo de pais e bebês na Casa Ângela – casa de parto em que ele nasceu. Lá, recebemos muitas informações a respeito da introdução alimentar, levando em conta os princípios da Antroposofia. Também grupos de mães no facebook e pesquisas na intenet auxiliaram bastante.

Hoje meu filho está com 8 meses e já se deliciou com uma variedade de frutas maior do que muitos adultos que conheço. E isso em pouco mais de 2 meses.

Adora mamão, banana, manga, abacate, uva, melão, melancia, pera, pêssego, ameixa, maçã, caqui, etc. Quando numa primeira prova ele não aceita muito bem, o que eu faço? Tento de novo, misturo com outra fruta e logo o estranhamento vira encanto.

E as verduras? Come alface, rúcula, espinafre, almeirão, couve, mostarda. E não somente cozidas na papinha. O Gael, como seus pais, adora suco verde e boa parte dessas folhas ele já provou cruas no café da manhã batidas com frutas, como você pode ver nas fotos.

Além disso ele já comeu até agora batata doce, mandioca, mandioquinha, cenoura, abóboras e abobrinhas, inhame, chuchu, beterraba, berinjela, tomate, couve-flor, brócolis, repolho, feijão, arroz integral, lentilha, aveia, farinha de linhaça e com certeza mais ingredientes dos quais não me recordo de imediato.

Na papinha, experimenta a cada dia uma nova erva aromática fresca: salsa, coentro, cebolinha, salsão, manjericão, orégano, tomilho, orégano.

Por outro lado, nunca provou nada com açúcar, sal, temperos secos, não tomou leite além do materno ou fórmula, nunca comeu pão, nada processado, nada de conservantes. Não dei – nem darei – a ele nada que alguém estivesse comendo por perto e me perguntasse “Será que ele não tem vontade?” e eu se quer desconfiasse que aquilo não fosse adequado a uma criança.

Também não aceitamos interferências dos avós nesse quesito, pois mesmo sabendo que eles o amam, não os consideramos como exemplos de saúde e boas escolhas alimentares. O que posso dizer a eles, se necessário, é que já tiveram a chance de criar os próprios filhos. Quem dedidirá pelo Gael até que ele tenha autonomia para escolher por si próprio somos nós, seus pais.

Vejo meus primos que passaram a infância comendo macarrão instantâneo com salsicha, pão, bolacha e doces. Hoje, adolescentes, o máximo que comem além de junk food é arroz branco, feijão carioquinha, macarrão, carne, batata, cenora e tomate. Insisto sempre que os vejo para que experimentem novos sabores. Raramente eles aceitam, e quando aceitam acabam gostando. Mas o que os impede de experimentar novos alimentos foi o cardápio restrito dos primeiros anos. Isso é muito evidente!

Além disso, o convívio com pessoas que se alimentam da mesma maneira e o preconceito quanto a outras opções alimentares dificulta ainda mais a mudança.

O pior é que eu sei que meus primos estão mais para a regra do que para a exceção. Não sei se você já assistiu um programa inglês chamado Você é o que você come. Era veiculado pelo GNT alguns anos atrás. Nele adultos obesos e com diversas consequentes doenças passavam por um choque de realidade para iniciar uma transformação alimentar. Eram pessoas viciadas em pizza, hamburguer e refrigerantes. O comum entre todos eles era não ter desfrutado desde a infância de alimentos frescos, sobretudo vegetais. No início a maioria deles tinha ânsia de vômito ao experimentar coisas tão básicass e deliciosas.

Se você está lendo esse texto até aqui é porque no mínimo está aberto ao questionamento. Se tem filhos pequenos, tenho certeza de que os ama e quer que sejam saudáveis e felizes. Então, reveja seus hábitos alimentares e o impacto que eles tem na vida dos pequenos.

Filhos são uma oportunidade para aprendermos. Um presente para reaprendermos e descontruirmos nossas certezas.

O Gael é extremamente saudável, alegre, inteligente e sociável.  Certamente as escolhas naturais que temos feito tem dado ótimos resultados. E suas escolhas, como andam?

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